Por Redação, 30 Jun 2025 - Sem categoria
Pesquisa indica que adolescentes passam, em média, 4 horas por dia na internetFoto: Divulgação ChildFund
Um mapeamento do ChildFund Brasil, divulgado em maio de 2025, revelou que mais da metade dos adolescentes brasileiros (54%) já foi vítima de algum tipo de violência sexual online. A pesquisa, chamada "Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet" (consulte estudo completo em https://www.childfundbrasil.org.br/publicacoes), que apontou os fatores de vulnerabilidade de jovens na internet, indicou um cenário alarmante e destaca a urgência de ações preventivas e de conscientização para proteger crianças e adolescentes no ambiente digital.
A análise mostra ainda que cerca de 43% dos entrevistados relataram já ter sofrido algum tipo de violência sexual online sem interação de uma a três vezes ou mais - esse estudo considera a violência sem interação os casos em que o adolescente tem acesso a conteúdo de sexo ou nudez sem estar interagindo com um agressor.
Nesse universo de 43%, um total de 42% relataram que já sofreram violência sexual com interação de algum agressor (perpetrador). Portanto, nesses casos, o agressor solicitou, por meio de ameaça ou não, conteúdos sexuais, que podem ser vídeos ou fotos de nudez e/ou atos sexuais. O estudo alerta também que podem ter ocorrido convites para vídeo chamadas ou encontros presenciais.
Conforme os dados levantados, 75% dos adolescentes têm entre 13 e 16 anos e 75% são pretos ou pardos; 93% cursam o ensino fundamental ou médio e 95% frequentam escolas públicas. O comportamento online desses adolescentes indica que eles passam, em média, 4 horas por dia na internet, sendo o celular o principal meio de acesso (93%). Apenas 2% acessam a internet pelo computador.
Além disso, em relação à violência, 43% relataram ter sofrido violência sexual online sem interação (conteúdo de nudez ou sexo), e 42% sofreram com interação - solicitação de conteúdo sexual, convites para videochamadas ou encontros.
Neste contexto também preocupa a interação com estranhos suspeitos, pois esse fenômeno foi relatado por 41% dos adolescentes entrevistados. E mais: os entrevistados acrescentam que o Whatsapp e o Telegram foram os ambientes onde mais ocorreram essas interações (55%). Essas interações online com estranhos ocorrem principalmente com homens e 14% residem na mesma cidade da vítima.
O levantamento do ChildFund Brasil empregou uma metodologia mista, combinando dados quantitativos e qualitativos. A primeira fase envolveu um inquérito online respondido por 8.436 adolescentes de 13 a 18 anos em todo o país, entre abril e setembro de 2024. A segunda parte, de caráter qualitativo, utilizou cinco grupos focais com 49 adolescentes em Minas Gerais e no Ceará, com a análise de suas falas por meio de inteligência artificial para identificar emoções e percepções. Por fim, uma revisão sistemática de artigos científicos e o mapeamento de políticas públicas internacionais complementaram o estudo.
O mapeamento do ChildFund Brasil ainda identificou quatro diferentes sentimentos de insegurança online segundo horários e tipos de ambientes virtuais frequentados:
Aplicativos online
Diversos fatores são determinantes para a ocorrência da violência sexual online com interação, incluindo o número e tipo de aplicativos acessados, idade, tempo diário online, gênero e o perfil de proteção do adolescente. O estudo revelou que adolescentes de 17 e 18 anos que usam mais de um aplicativo têm 8,09 vezes mais chances de serem vítimas de violência sexual com interação online do que a média.
Além disso, acessar sete ou oito aplicativos dobra a chance de um adolescente ser vítima. Meninas e adolescentes de gênero "outros" correm um risco significativamente maior do que a média, e aqueles considerados "bem protegidos" ou "protegidos" têm 1,22 vezes menos chances de serem vítimas. Outro ponto de alerta: o controle digital alcança 40% dos adolescentes da escola privada e apenas 24% dos adolescentes das escolas públicas.
A "voz dos adolescentes" nos grupos focais reforça essas preocupações. Observou-se uma forte predileção por hobbies online (79%). Apesar de 76% dos adolescentes terem recebido orientação sobre o uso da internet, apenas 6% souberam como denunciar violência sexual online. Muitos preferem simplesmente bloquear perfis indesejados, o que contribui para a subnotificação dos casos.
As meninas, em particular, relataram sentir-se mais inseguras online e possivelmente sofrem 2,3 vezes mais bullying do que os meninos. Plataformas como Instagram (68% dos entrevistados) e Roblox (12% dos entrevistados) foram apontadas como ambientes de maior risco, devido a invasões de conta, assédio, criação de perfis falsos e chats anônimos que favorecem o aliciamento.
O estudo destaca as fragilidades da rede de proteção no Brasil. A legislação nacional ainda possui lacunas em relação a práticas como "grooming" (preparação da vítima para abuso) e "sextorsão" (extorsão sexual), e a subnotificação permanece elevada devido a fatores como medo, vergonha e desconfiança nas instituições.
Além disso, profissionais da educação, saúde e segurança pública frequentemente não estão preparados para lidar com casos de abuso, e a cooperação com plataformas digitais ainda é limitada, com ferramentas de detecção como o PhotoDNA não sendo obrigatórias por lei.
Para enfrentar esses desafios, o ChildFund Brasil aponta a necessidade de adaptar experiências internacionais de sucesso. Políticas como o Child Pornography Prevention Act (EUA) e o Sexual Offences Act (Reino Unido) são referências pela rigidez legal e clareza nas definições. Recomendações incluem a criminalização de condutas específicas como grooming e sextorsão no Código Penal, a obrigatoriedade de ferramentas de detecção de conteúdo ilegal (como PhotoDNA) para plataformas digitais, a criação de protocolos intersetoriais padronizados para a rede de proteção, e a garantia de acompanhamento pós-denúncia às vítimas. A adesão do Brasil a redes como a WeProtect Global Alliance e a tratados como a Convenção de Budapeste também é crucial para fortalecer a cooperação internacional.
Em suma, o estudo reforça que a violência sexual online é um problema complexo e generalizado no Brasil, exigindo uma resposta articulada. Políticas públicas baseadas em evidências, educação digital contínua para jovens, pais e educadores, e o fortalecimento da cooperação entre governo, setor privado e sociedade civil são fundamentais para criar um ambiente online mais seguro e proteger as crianças e adolescentes.
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